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Jubileu de Diamante da Rainha Elizabeth II

Neste fim de semana, o Reino Unido comemora os setenta anos da coroação da segunda monarca mais longeva da história. A Rainha Elizabeth II chega aos 70 anos de reinado este ano. Está atrás apenas de Luís XIV, o Rei-Sol de França, que reinou por 72 anos e 110 dias.

E foi para esta coroação que as armas do Reino Unido sofreram a sua última modificação. Não no brasão em si, mas no desenho.

As novas “Bestas da Rainha”

Para a coroação de Elizabeth II, na capela de Westminster, em junho de 1952, o Ministério de Obras Públicas do Reino Unido encomendou ao escultor James Woodford uma série de dez esculturas de vários badges (insígnias) reais, que ficaram conhecidas como “As Bestas da Rainha”. Estas esculturas são inspiradas outras, que foram encomendadas pelo rei Henrique VIII, para decorar o seu casamento com Jane Seymour, em 1536.

“As Bestas da Rainha”, Kew Gardens, Richmond. Foto por Ramson.

 

Dentre as esculturas, a mais importante era o Leão da Inglaterra. Sendo a única besta entre as dez que tinha a cabeça coroada, sua função era a de sustentar as armas do Reino Unido. Porém havia algo de diferente. A Historiografia falha em definir se ela é fruto de conversas entre Woodford e o College of Arms, se foi uma pedido do Ministério ou mesmo uma ideia do próprio Woodford, porém o terceiro quartel estava diferente. A Harpa, que representa a Irlanda do Norte como parte integrante do Reino Unido tinha um desenho diferente, mais gaélico.

O novo desenho aproximou as armas do (teórico) Reino da Irlanda (de facto, a Irlanda do Norte) das armas da vizinha República da Irlanda, que por sua vez já não exibiam mais a harpa com cabeça humana e seios à mostra desde o ano de 1922.

Dois anos depois, em 1954, a Rainha expressou sua preferência pela harpa em estilo gaélico. Desde então as armas reais tem sido desenhadas neste estilo. Pode-se notar que a harpa antiga sumiu da maioria dos lugares.

Rainha Elizabeth chegando ao Epsom Derby, em 2015. Note-se a Harpa Gaélica na bandeira e na capota do carro.

Da mesma forma, também não vemos mais a harpa antiga nos brasões concedidos à sua descendência e familiares, que como se sabe, usam brisuras das armas da Rainha, como é o caso do Duque de Sussex e de sua Esposa:

As Armas da Duquesa de Sussex

As armas da Duquesa de Sussex, num escudo partido com as armas de seu marido, neto da Rainha. A harpa não tem um vislumbre de figura humana sequer.

A Heráldica é uma Arte

Porém, algo que não podemos esquecer é que a heráldica é uma linguagem que permite múltiplas representações artísticas do mesmo conceito (o brasão em si). Portanto, independente de como se desenhe a harpa, as armas do Reino Unido (fora da Escócia) seguem as mesmas:

Quarterly, I and IV Gules, three lions passant guardant in pale Or langued and armed Azure. II Or a lion rampant Gules armed and langued Azure within a double tressure flory-counter-flory Gules. III Azure a harp Or stringed Argent.

Esquartelado: I e IV de vermelho, três leões passantes guardantes de ouro, armados e lampassados de azul. II de ouro, um leão rampante de vermelho, armado e lampassado de azul dentro de uma orla dupla flordelisada de vermelho. III de azul, uma harpa de ouro, cordada de prata.

Ou seja, heraldicamente, a harpa de seios de fora não está errada. Vejam a foto do o Garter King of Arms. Já falamos sobre Sir Thomas Woodcock antes. Eu o considero, indubitavelmente, o homem mais importante da heráldica nos nossos dias. No tabardo, vestimenta oficial de sua função, a harpa antiga.

Fonte: Christopher Bellew. Foto por Hugo Rittson Thomas

Ficam as teorias e as especulações sobre a mudança no desenho. Poderia ter sido isto uma tentativa de aproximá-la da harpa da República da Irlanda, seja visando uma reaproximação? Talvez uma forma de estabelecer uma possível reclamação territorial? Ou quem sabe pode ter sido um impulso moralizador da própria rainha, buscando substituir a tão criticada nudez feminina e os tão polêmicos mamilos por uma solução mais pudica?

São pequenos detalhes como estes que fazem a Heráldica ser tão interessante afinal. Ela é, mesmo depois de tantos séculos, uma ciência viva e sujeita às mudanças do mundo.

 

O que é um brasão?

Bem-vindos ao texto básico do Heráldica Brasil: “O que é um brasão?” É um texto um pouquinho mais longo, contudo compreender este conceito é importante para todo estudioso de Heráldica. Se vocês tiverem dúvida sobre qualquer conceito apresentado nesse website, voltem a esse texto e o leiam calmamente, porque se este conceito não ficar claro, muito do blog pode ficar meio nebuloso.

O que é um brasão? é uma pergunta que parece inócua. Tanto que a grande maioria das pessoas passa por toda a vida sem precisar pensar nela. Brasões não são grande coisa nos dias de hoje, pelo menos não para nós. Com a evolução das capacidades militares, carregar um escudo decorado para nos diferenciar não é necessário.

Boletim do College of Arms, 55

O College of Arms, Autoridade Heráldica da Inglaterra, do País de Gales e de boa parte da Commonwealth (Austrália e Nova Zelândia, por exemplo), produz um boletim trimestral com notícias sobre novas armas concedidas ou a conceder, palestras oferecidas por seus Reis de Armas e visitas aos arquivos da instituição.

 

Esta Newsletter é encaminhada por e-mail para todos que subscrevam, e também pode ser acessada no site do College. Tenho o hábito de ver os meus e-mails sempre de manhã cedo, e para isso, esta newsletter é muito boa, afinal sua periodicidade me dá tempo suficiente para limpar a minha caixa de entrada antes de recebê-lo. Sem mais delongas, ei-lo.

Boletim do College of Arms, 55

Eu pensei que nesta edição, que chegou ao meu e-mail em fins de julho, teríamos mais informações sobre as armas da Duquesa de Sussex, Meghan Markle, as quais foram adiantadas aqui no blog há algum tempo atrás, mas não. A Heráldica Inglesa segue completamente alheia ao mundo exterior e aos acontecimentos de “destaque momentâneo” na Inglaterra.

O texto inclui, como sempre, alguns desenhos de armas, informações sobre os afazeres dos membros do College, como o comparecimento do Garter King of Arms nos eventos da Ordem da Liga (ou Ordem da Jarreteira) no último mês de Junho.

Brasão de Armas da Duquesa de Sussex

A Duquesa de Sussex, Rachel Meghan Markle, finalmente recebeu suas armas próprias, as mais esperadas pela comunidade heráldica neste ano.

Desde antes do casamento com o Príncipe Harry do Reino Unido, havia muita especulação sobre quais seriam as armas da Duquesa. Afinal, a relação conturbada de Meghan Markle com o seu pai parecia um problema para o College of Arms.

Explique-se: não se poderia seguir com o mesmo expediente do casamento anterior, quando o Príncipe William casou-se com Catherine Middleton. Na ocasião, o pai dela recebeu um brasão de armas, que foram modificadas para que a futura Duquesa de Cambridge tivesse assim suas próprias armas. No fim das contas, ocorreu o mais provável: Meghan ganhou seu próprio brasão.

Na manhã deste sábado, o Palácio de Kensington, residência dos Duques de Cambridge e Sussex, publicou a imagem abaixo, com as armas próprias da Duquesa:

As Armas da Duquesa de Sussex

As armas de Meghan Markle, Duquesa de Sussex: “De azul, duas bandas de ouro entre três penas de prata”, aqui num escudo partido com as armas de seu marido, o Duque de Sussex. Fonte: Palácio de Kensington.

Kensington publicou ainda uma nota tratando das armas da Duquesa, a qual reproduzo aqui, traduzida:

Um brasão de armas foi criado para a duquesa de Sussex. O design das armas foi acordado e aprovado por Sua Majestade a Rainha e pelo Sr. Thomas Woodcock (Rei de Armas da Ordem da Jarreteira e Heraldo Sênior na Inglaterra), baseado no College of Arms em Londres.

Sua Alteza Real trabalhou junto ao College of Arms durante todo o processo de design para criar um brasão que fosse pessoal e representativo.

O fundo azul do escudo representa o Oceano Pacífico ao largo da costa da Califórnia, enquanto os dois raios dourados do outro lado do escudo simbolizam a luz do sol do estado natal da Duquesa. As três penas representam a comunicação e o poder das palavras.

Sob o escudo, na grama, há papoulas douradas, a flor do estado da Califórnia, e wintersweet, flor que cresce no Palácio de Kensington.
É costume que suportes sejam designados para os membros da família real, e que as esposas dos membros da família real tenham um dos suportes provenientes das armas de seu marido e um relacionado consigo mesmas. O suporte da duquesa de Sussex é um Passeri com asas elevadas como se estivesse voando e um bico aberto, que como a pena representa o poder da comunicação.

Uma coroa também foi designada para a duquesa de Sussex. É a Coroa estabelecida por um Mandado Real de 1917 para os filhos e filhas do Herdeiro Aparente. É composto de duas cruzes patéas, quatro flores de lis e duas folhas de morangueiro.

As armas de uma mulher casada são mostradas juntas às de seu marido. O termo técnico em inglês é “impalled”, ou seja, colocados lado a lado no mesmo escudo. (em português, Partido)

Thomas Woodcock, Garter King of Arms, disse: “A Duquesa de Sussex teve um grande interesse no design. O bom design heráldico é quase sempre simples e as Armas da Duquesa de Sussex estão bem ao lado da beleza histórica dos quarteis das Armas britânicas. A heráldica como meio de identificação floresceu na Europa por quase novecentos anos e está associada a pessoas individuais e a grandes corporações, como Cidades, Universidades e, por exemplo, as Livery Companies na Cidade de Londres. “

As armas de Meghan, aludem a sua origem, o mar e o sol da Califórnia, além de sua realidade como comunicadora. As penas decerto se referem ao seu antigo blog, The Tig. O poder das palavras é, evidentemente, importante para a Duquesa de Sussex, como atriz, mas principalmente como ativista pelos direitos das mulheres.

Papoulas Douradas

A papoula dourada, emblema floral da Califórnia, era de fato esperada em algum lugar do brasão. Na carta de consentimento emitida pela Rainha Elizabeth II, por exemplo, as flores já haviam aparecido:

Emblema representando Meghan Markle na carta de consentimento. Fonte: Daily Telegraph.

O emblema acima traz o alho-poró, emblema floral do País de Gales, tendo em vista que os netos da monarca são filhos do Príncipe de Gales, acompanhado das papoulas californianas, além da Rosa, que é flor nacional dos Estados Unidos (e, de igual forma, da Inglaterra), e de dois ramos de oliveira, também provenientes das Armas Nacionais dos Estados Unidos. Sim, os Estados Unidos possuem um brasão de armas, mas isso é assunto para uma outra ocasião.

Por último, e não menos importante, uma recomendação para todos, direto do mais sênior dos heraldos britânicos, o Rei de Armas da Jarreteira:

O bom design heráldico é quase sempre simples e as Armas da Duquesa de Sussex estão bem ao lado da beleza histórica dos quarteis das Armas britânicas.

Pensem bastante nisso quando estiverem definindo suas armas pessoais.

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