Tag: heráldica Page 1 of 2

Quanto custava um brasão no Império?

Há alguns dias, no Grupo do Facebook, perguntaram sobre o brasão de um nobre do Império. E em busca desta resposta, tropeçamos num dado interessante, sobre o qual decidimos nos debruçar hoje. A verdade é que no império, a Heráldica não era concedida a título gracioso, e nem todo nobre registrou armas para o seu título, pois não custava barato.

Em 1860, o registro de um brasão podia custar o equivalente até quase 600 mil réis, ou 600 gramas de ouro.

Fazendo a conta com o valor do preço do ouro nos dias de hoje, é uma soma astronômica, de fato. Há, sem dúvida, inúmeros fatores que temos que considerar aqui, entre eles a inflação, o preço do ouro, etc. etc. Mas eu deixo esses fatos econômicos para quem puder melhor tratar deles. Por ora, trabalharei com os dados coletados por Anibal de Almeida Fernandes, 4º neto do Barão de Cajuru, que nos traz algumas informações sobre a economia em seu “Estudo comparativo entre quatro fortunas do Império Brasileiro na década de 1860” (2011):

O primeiro dado para o qual atentamos é que “em 1860, 1 conto de réis (1:000$000=1 milhão de réis) comprava 1 kg. de ouro” e “para ser nomeado Senador do Império o interessado tinha que comprovar uma renda anual de 800$000.” Guardemos esta localização histórica e temporal.

O número de nobres sem brasão (como o Barão de Croatá) no Archivo Nobiliarchico Brasileiro supera por muito o de nobres armígeros.

Para não nos fixarmos no padrão-ouro, buscamos um outro estudo, que tratasse de valores. Um excerto da “Evolução dos preços e do padrão de vida no Rio de Janeiro, 1820-1930” (1971), da Revista Brasileira de Economia (FGV), nos apresenta alguns salários anuais: Um imigrante trabalhando numa fábrica de velas ganhava 10 mil réis mensais (em 1861), um Mestre Pedreiro livre ganhava 44.120 réis mensais(em 1863). Um professor de primeiras letras aprovado em concurso, no melhor dos casos, ganhava pouco mais que 40 mil réis mensais (500$000 anuais, de acordo com a Lei das Escolas de Primeiras Letras, de 1827).

O valor da carta de brasão era mais de dez vezes isso

Pedro Moniz de Aragão, diretor do Arquivo Nacional responsável por publicar o ‘Catálogo da Exposição de Modelos de Brasões e de Cartas de Nobreza e Fidalguia (1965), conta-nos:

“Segundo folha impressa, apensada ao Armorial Brasiliense de Luís Aleixo Boulanger, datada de 2 de Abril de 1860, eram os seguintes os preços então cobrados:”

Requerimento a S.M. O Imperador e passos a respeito: 30$000

Pergaminho (para álbum de quatro folhas): 32$000

Carta de Nobreza e Fidalguia:
Caracteres dourados: 180$000
Cópia das armas para a Secretaria do Império: 25$000
Dito, para o arquivo: 25$000
Composição de Armas Novas, conforme os preceitos da ciência: 25$000
Heráldica: 25$000
Encadernação em veudo: 50$000

Despesas Fixas:
Escrevente do Cartório da Nobreza: 40$000
Despacho à Secretaria do Império: 10$000
Emolumentos do Escrivão da Nobreza e Fidalguia: 50$000
Ditos do Rei de Armas: 50$000
Para Direitos no Tesouro: 20$000
Selo da Carta de Nobreza: 30$000

O total, para uma certificação completa, seria, portanto, de 592$000. Em baixo, sob uma linha à guisa supostamente de soma, aparece a importância de 366$000. A diferença pode se referir a custos relativos à carta, possivelmente às letras douradas e à encadernação em veludo, que somadas custariam 230 mil réis. Na Biblioteca do Heráldica Brasil, por exemplo, encontra-se a Carta de Brasão da Baronesa de Sertório, que possui uma capa aveludada, mas não possui letras douradas para além do nome do Imperador. Baseado nestas informações, parece correto afirmar que Boulanger oferecia cartas de brasão mais ou menos elaboradas para os solicitantes.

Uma cópia do Brasão da Baronesa de Sertório, concedido por Luís Aleixo Boulanger, está na Biblioteca do Heráldica Brasil.

Ainda assim, não era nada barato, afinal quem queria um brasão tinha de pagar todos os custos necessários. Fernandes (id.) nos conta, por fim, que dos 986 titulados no Império, apenas 239 tiveram brasões registrados.

Referências

FERNANDES, Anibal de Almeida. Estudo comparativo entre quatro fortunas do Império Brasileiro na década de 1860. 2011. Disponível em: https://www.genealogiahistoria.com.br/index_historia.asp?categoria=4&categoria2=4&subcategoria=56. Acesso em: 5 jun. 2022.

LOBO, Eulalia Maria Lahmeyer et al. Volução dos preços e do padrão de vida no Rio de Janeiro, 1820-1930 – resultados preliminares. Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, v. 25, n. 4, p. 235-266, 01 out. 1971. Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rbe/article/view/67. Acesso em: 05 jun. 2022.

Pedro Moniz de Aragão (org.). Catálogo da Exposição de Modelos de Brasões e de Cartas de Nobreza e Fidalguia: colônia – reino unido – império. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1965.

5 livros grátis para aprender sobre Heráldica

Um bom livro é o melhor amigo que se pode ter, diz-se por aí. E se você quer aprender heráldica, não há outra forma tão boa quanto cercar-se de livros sobre o tema. Dizem alguns que a Heráldica é uma ciência morta, que seus desenhos estão ultrapassados e que seus princípios são coisa de gente velha. O que é, seguramente, uma bobagem.

Se fosse assim, não teríamos o College of Arms Britânico contratando novos passavantes anualmente. Não teríamos personalidades, cidades e outras pessoas físicas e coletivas assumindo armas. Não teríamos livros sendo lançados, e com certeza não teríamos páginas de Instagram e grupos de Discord, verdadeiras mecas digitais do público jovem, destinados à Heráldica.

Por isso existimos nós, os aficionados, catalogando e trazendo a público livros de heráldica. Por vezes, pinçando em sebos ou em arquivos digitais. Estes últimos, fazem menos danos ao nosso sistema respiratório. E é graças a estes, em sua maioria, que podemos compartilhar cinco dos melhores livros para aprender sobre a matéria.

Em tempo: Os livros que compartilhamos estão disponíveis legalmente na internet. Há inúmeros métodos de conseguir livros protegidos por direitos de autor, aí pelos torrents, trackers e fóruns da vida. Porém, por mais que este blog seja ávido defensor da cultura livre, respeitamos os direitos de autor e não compartilhamos pirataria de nenhum tipo. Assim, evitamos de sofrer represálias ou outros problemas jurídicos. Vida de pesquisador no Brasil não é nada fácil, não vamos piorar as coisas…

Sem mais delongas, vamos à seleção:

Introdução ao Estudo da Heráldica, do Marquês de Abrantes

A melhor obra introdutória sobre Heráldica disponível em Língua Portuguesa, escrita por D. Luiz Gonzaga de Lancastre e Távora, Marquês de Abrantes na Nobreza de Portugal.

Pessoalmente, gosto tanto deste livro que imprimi uma cópia física para mim. A edição é de 1992, e foi disponibilizada pelo Instituto Camões. A perfeita contextualização histórica do autor Marquês garante, de fato, uma leitura de altíssimo nível. Clique na capa do livro para baixar.

Princípios de Heráldica, de Vera Lúcia Bottrel Tostes

Tenho meus dois pezinhos atrás com Tostes, que se posicionou como herdeira do trabalho de Gustavo Barroso pela Heráldica Nacional, mas preciso dar o braço a torcer por seu trabalho. Apesar de alguns erros, que eu desconfio que procedem de transcrições malfeitas, e algumas informações desencontradas, o trabalho da autora carioca é bem ilustrado e segue sendo uma introdução valiosa para quem está começando!

Assim como o trabalho de Abrantes, este livro ainda não está em Domínio Público, e edições do original de 1983 estão a venda em sebos online, como a Estante Virtual. Felizmente para nós, o próprio Museu Histórico Nacional, onde Tostes foi diretora, disponibiliza acesso ao livro gratuitamente. Clique na capa do livro para acessar.

 

Archivo Nobiliarchico Brasileiro, dos barões de Vasconcelos

Nesta obra rara, datada de 100 anos atrás, portanto já em Domínio Público, duas gerações dos barões de Vasconcelos coletam a Nobreza Imperial. A obra foi editada em Lausanne e tem brasões desenhados po Fernand Junot.

Um dia, no futuro, quando eu não tiver mais nenhum trabalho ou universidade tomando o meu tempo, penso em preparar uma edição renovada e ampliada com outros brasões posteriormente descobertos em outros arquivos.

Enquanto isto não acontece, ficamos com a edição original, disponibilizada pela Biblioteca Digital Luso-Brasileira, uma iniciativa da Biblioteca Nacional. Clique na capa do livro para acessar.

English Heraldry with nearly five hundred illustrations, de Charles Boutell

Boutell é o livro básico da Heráldica Inglesa. Sua leitura é, até os dias de hoje, essencial. Ele é útil para aprender formas e conceitos inerentes à Heráldica das terras da Rainha. Foi com este livro que eu estudei para o meu exame de acesso ao nível de Associate Fellow da International Association of Amateur Heralds.

Para evitarmos problemas com o pessoal das editoras, a edição que estamos compartilhando aqui é a de 1908, revisada por Arthur Charles Fox-Davies. Esat é uma edição da Universidade da Califórnia, para livre acesso e download, disponibilizada pelo The Internet Archive. Mas visitando o site do próprio Internet Archive, é possível “emprestar” edições mais recentes, revisadas por John Philip Brooke-Little, um admirador do trabalho de Fox-Davies.

Clique na capa do livro para acessar a edição de 1908. Clique aqui para a edição de 1978, que requer, porém, uma conta no Internet Archive para um empréstimo temporário.

Tratado de Heráldica y Blasón, de Francisco Piferrer

Um dos grandes volumes da Heráldica Espanhola, até hoje citado por especialistas no assunto. É o mais antigo de todos nesta lista, tendo sido lançado em 1853, portanto há quase 170 anos. Ainda assim, é uma excelente cartilha para quem curte o idioma de Cervantes.

Ainda que a digitalização, disponibilizada pela Universidade da Califórnia através do Google Books, não ser a mais gentil com as ilustrações de José Asensio y Torres, este segue como o meu livro favorito de Heráldica Espanhola, por sua leitura bem fácil. Pode ser lido online, baixado ou até mesmo pelo celular, através do aplicativo Google Books. Clique na capa do livro para acessar.

Uma última dica

Um bom livro é o melhor amigo que se pode ter, diz-se por aí. Se você der uma pesquisada nesses links aí, vai conseguir encontrar livros tão bons quanto esses. Desejo bons estudos de Heráldica, e até o próximo post!

O que é um brasão?

Bem-vindos ao texto básico do Heráldica Brasil: “O que é um brasão?” É um texto um pouquinho mais longo, contudo compreender este conceito é importante para todo estudioso de Heráldica. Se vocês tiverem dúvida sobre qualquer conceito apresentado nesse website, voltem a esse texto e o leiam calmamente, porque se este conceito não ficar claro, muito do blog pode ficar meio nebuloso.

O que é um brasão? é uma pergunta que parece inócua. Tanto que a grande maioria das pessoas passa por toda a vida sem precisar pensar nela. Brasões não são grande coisa nos dias de hoje, pelo menos não para nós. Com a evolução das capacidades militares, carregar um escudo decorado para nos diferenciar não é necessário.

Apontamentos de Heráldica

Eu sou um estudante muito displicente. E um blogueiro ainda mais displicente. Nestes últimos oito ou nove anos em que estou pesquisando sobre brasões, nunca consegui sistematizar muito do meu aprendizado. E esse blog então… Vive bem parado. E já que eu pessoalmente não consigo fazer muito disso, hoje trago-lhes a sugestão de leitura de alguém que consegue: O Miguel Linhares, membro do nosso Grupo no Facebook iniciou no começo do ano um excelente blog, o Apontamentos de Heráldica. Se alguém aqui ainda não conhecia, peço que imediatamente encaminhe-se para a leitura por lá.

Armas do Miguel Linhares, do Blog Apontamentos de Heráldica

 

Sendo um excelente professor e tradutor, o Miguel tem trazido dezenas de conteúdos muito interessantes, que contribuem e muito para o estudo de Heráldica. Em apenas 10 meses de publicação, o blog já tem mais de 140 publicações. É algo que este displicente que vos escreve nem sonha! O Apontamentos de Heráldica se tornou rapidamente o meu blog preferido sobre a matéria, porque o autor é um grande estudioso da matéria. A partir da análise e da tradução de armoriais e tratados, especialmente em Latim, sobre Heráldica, o Miguel fornece subsídios valiosos para todos nós, que temos interesse na área.

É uma leitura obrigatória para quem quer aprender mais sobre isso!

Apoio aos criadores

Senhoras e senhores, tendo recebido algumas denúncias de plágio e vazamento de material de criadores do grupo para mãos mal-intencionadas, a administração vem esclarecer algumas informações:

A questão é…

O Heráldica Brasil não compartilha e não compactua com pirataria de livros, ebooks ou materiais de desenho heráldico. Todo o material utilizado, citado e apresentado no blog ou nas publicações da administração cumpre as políticas de direitos autorais vigentes. Podemos citar como exemplo:

A imagem da capa do grupo (e também do blog) é uma página do Armorial de Bellenville, que está em domínio público há centenas de anos, e que foi digitalizado pela Biblioteca Nacional da França.

Armorial de Belenville, Folio 50.

Armorial de Bellenville, Folio 50. Digitalizado pela Biblioteca Nacional da França.

O desenho do brasão que adorna a capa e o avatar do grupo tem algum material proveniente do Wappenwiki e do Servidor do r/Heraldry no Discord, e foi produzido sob uma licença Creative Commons, corretamente informada.

Brasão do Heráldica Brasil com Assinatura

Brasão do Heráldica Brasil, construído com materiais do Wappenwiki e do r/Heraldry.

Outros materiais, como a Biblioteca de ebooks do Instituto Paraibano de Heráldica e Genealogia e os Cadernos do Barão de Arede foram gentilmente cedidos pelos detentores do copyright, e para estes, a administração mantém as devidas autorizações em arquivo.

Compreendemos que a pirataria na internet é prejudicial aos verdadeiros criadores do trabalho, e deste modo causa prejuízo, não apenas financeiro. Encorajamos as pessoas a distribuírem seus estudos e obras livremente, pelo bem da arte. Porém sabemos que nem sempre é possível, e então apoiamos os criadores desta forma.

Como decidimos lidar com isto, pelos criadores?

Reafirmamos incondicionalmenteo nosso compromisso de fornecer fontes o mais exatas possíveis para todas as nossas publicações, mesmo as retroativas. Assim, se encontrarem pelo blog alguma imagem ou citação sem fonte, não hesitem em nos comunicar e faremos a correção o mais breve possível. Nossa posição quanto ao plágio é completamente imutável e será mantida a despeito de quaisquer circunstâncias.

Ainda com isto em mente, a administração do Heráldica Brasil emendou as regras do grupo com o seguinte artigo:

Para garantir a integridade do Heráldica Brasil e proteger os direitos de autor dos criadores de conteúdo, qualquer membro que for denunciado por desviar informação com fins prejudiciais aos seus criadores e ao grupo será EXCLUÍDO IMEDIATAMENTE, sem direito a apelação.

Entendemos que esta medida não é suficiente para o fim do plágio, no entanto esperamos aliviar, ao menos um pouco, a ocorrência deste.

Sem mais, agradecemos a paciência.

A administração.

Boletins do College of Arms, 56 e 57

College of Arms, Londres. Foto por Georgia Evelyn Stants

O College of Arms, Autoridade Heráldica da Inglaterra, do País de Gales e de boa parte da Commonwealth, produz um boletim trimestral com notícias sobre novas armas concedidas. Noticia ainda palestras oferecidas por seus Reis de Armas e faz visitas aos arquivos da instituição.

Esta Newsletter é encaminhada por e-mail para todos que subscrevam, no entanto também pode ser acessada no site do College. Tenho o hábito de ver os meus e-mails sempre de manhã cedo, e para isso, esta newsletter é muito boa. Sua periodicidade me dá, afinal, tempo suficiente para limpar a minha caixa de entrada antes de recebê-la. Desta vez, a correria de fim de ano me impediu de publicar a edição 56 antes. As edições 54 e 55 estão disponíveis também.

Boletim do College of Arms, 56

A newsletter de outubro trouxe como destaque o papel do College na proclamação da paz após o Tratado de Versalhes. Há ainda a promoção de uma “breve exposição” sobre a Primeira Guerra, feita em outra página do site. Esta que apresenta brasões concedidos na época, assim como documentos relativos ao trabalho dos arautos britânicos durante a guerra.

Boletim do College of Arms, 57

Armas do 1º Visconde Allenby, marechal de campo Edmund Allenby (1861-1936). Os suportes, um cavalo e um camelo, simbolizam aspectos de sua carreira militar: ele comandou a divisão de cavalaria da Força Expedicionária Britânica na Frente Ocidental, depois de 1917 foi Comandante-em-Chefe da Força Expedicionária Egípcia na Palestina.

O segundo boletim chegou hoje de manhã bem cedo, e traz um caso bem curioso. Um diplomata britânico na Pérsia, Sir Harford Jones, então recentemente enobrecido como Baronete Boultibrook, recebe uma incomum condecoração. Nada menos que o direito de usar as armas do Império Persa! Certamente uma história bem interessante. A qual podem acompanhar seguindo o link abaixo:

Boletim do College of Arms, 57

Para além disso, as usuais novas concessões heráldicas, sempre executadas de forma belíssima, e sempre renovando. Desta vez, há umas armas com barras de alumínio e outras com um abacaxi no timbre. O College of Arms é a prova viva de que a heráldica não é uma ciência morta. Aliás, está vivíssima e fazendo-se cada dia mais moderna. Há ainda uma pequena nota in memoriam ao falecimento de um antigo Rei de Armas da Jarreteira. Sir Conrad Swan, que faleceu no início do mês, foi lembrado pelo boletim.

Galeria de Brasões do Arquivo Nacional

A Galeria de Brasões do Arquivo Nacional está disponível no Flickr, um site de hospedagem de imagens.

Eu não tenho notícia se o Museu Nacional tinha muitas obras heráldicas, porque infelizmente não moro no Rio de Janeiro. Mas a perda do Museu para um trágico incêndio, no mês passado, me fez questionar ainda mais a validade do nosso sistema de arquivos atual, a forma com que arquivamos as coisas.

O que fazer com estes arquivos?

Papel é algo inflamabilíssimo, e deve ser tratado com muito mais cuidado do que os excelentes governantes da nossa querida pátria de 1889 para cá, que tanto se preocupam com a nossa história (e sim, estou sendo completamente irônico) o dispensam. Como ainda não tenho condições de manter um arquivo físico, tenho expandido a nossa Biblioteca sempre que possível, e para hoje, trouxe um conteúdo novo.

O Arquivo Nacional do Brasil disponibilizou recentemente, em sua página no Flickr,  algumas imagens de brasões de seu acervo, dos períodos Colonial e Imperial. Para garantir que isto não seja perdido, caso alguma mudança política venha a afetar o acervo do Arquivo, resolvi fazer, neste humilde pasquim heráldico, uma réplica de tal galeria.

Confiram as imagens da galeria disponibilizadas abaixo.

Brasões do Arquivo Nacional

Com informações da página da International Order Knights of Thunderbolt, uma incomum confraria que apareceu pelo meu feed do Facebook, recentemente.

 

Errata: Eu havia escrito Museu Histórico Nacional. Alertado pelo grande Renato Moreira Gomes, corrijo-me pois, informando que o MHN está “bem”. Quem queimou foi o Museu Nacional.

Entre no Grupo Heráldica Brasil do Facebook!

Nosso grupo do Facebook está chegando aos 400 membros! São 387 membros no momento, tendo acesso a novas discussões sobre heráldica, compartilhando dúvidas e conteúdos com pessoas de todo o Brasil e do exterior. Enfim, aprendendo mais sobre a ciência heroica! Junto com a Biblioteca, é dos meus maiores orgulhos!

Entre as minhas tarefas como administrador, está garantir a entrada de membros que realmente estejam interessados no tema, filtrando as solicitações e deixando passar apenas os interessados em Heráldica, colocando pra fora os vendedores de quinquilharias e os deslocados fazendo propagandas não relatadas, como de serviços de limpeza de piscinas. Dessa forma, garantimos sempre o melhor conteúdo e muito aprendizado!

Para garantir o interesse das pessoas eu mantenho dois critérios:

Primeiro, Confiança. Quando alguém convida um novo membro, eu analiso brevemente os setores públicos do seu perfil, e encontrando referências heráldicas suficientes, o novo membro é aceito, pela confiança que eu tenho de que um membro já no grupo não adicionaria alguém que não tem interesse.

E segundo, Autodeclaração. Se alguma pessoa deseja entrar no Heráldica Brasil, ainda que não seja apadrinhada, ela será aceita. Seria contraproducente e completamente contrário ao que acredito colocar um limite nos membros do grupo. No entanto, a fim de garantir a organização do grupo e que todos encontrarão exatamente o que procuram, atualmente temos duas pequenas perguntas são feitas a todos que solicitam entrada. Sem estas respostas, os solicitantes não podem entrar no grupo.

As perguntas para entrar no grupo são bem simples!

“Descreva, resumidamente, seu interesse em Heráldica” e “O que você espera encontrar no Heráldica Brasil?”. A fim de facilitar, você pode inclusive usar os textos da imagem abaixo como guia para suas respostas:

Respostas possíveis para entrada no grupo.

Por ser parte do meu desejo de propagar a heráldica, o grupo já está definido como público! Você já tem acesso a todo o conteúdo sem precisar entrar. No entanto, respondendo apenas estas duas perguntas, você passa a um novo nível, podendo passar fazer parte da discussão, tirar dúvidas, apresentar suas opiniões e é claro, aprender bastante!

Então, se você já pediu entrada, mas ainda não respondeu as perguntas, basta ir até lá novamente e responder. Assim, um Heráldica Brasil completamente novo se descortinará para você!

Cadernos “Barão de Arêde” na Biblioteca

Mais novidades sempre que possível, esta é a meta. Hoje, os Cadernos de Genealogia e Heráldica do Barão de Arêde foram adicionados a Biblioteca.

Monograma do Barão de Arêde Coelho. Imagem da Capa dos Cadernos.

Monograma do Barão de Arêde Coelho. Imagem da Capa do Caderno.

A Revista do Centro de Estudos de Genealogia e Heráldica Barão de Arêde Coelho é uma das melhores publicações heráldicas em língua portuguesa desta década. Dirigida pelo próprio Barão, Luís Soveral Varella, conta com escritos de grandes nomes da Heráldica Portuguesa dos nossos dias. Escreveram  para o Caderno nomes como Óscar Caeiro Pinto, Luís Camilo Alves, David Fernandes da Silva e Segismundo Pinto, além de tantos outros excelentes heraldistas do lado de lá do Atlântico, assim como o próprio barão.

Todos os volumes estão atualmente disponíveis no site do Centro, todavia solicitei a autorização do barão para copiar o conteúdo para a nossa Biblioteca, e com sua pronta aceitação, lá já estão, numa pasta própria, as sete edições já lançadas do Caderno.

Armas do Barão de Arêde Coelho. Imagem por Luís Camilo Alves.

Armas do Barão de Arêde Coelho. Imagem por Luís Camilo Alves.

Sem mais para hoje, fica reiterado o meu agradecimento ao Luís, cujas belíssimas armas ilustram esta publicação; e a todos uma boa leitura.

 

A nova “nobreza” da internet, novamente

Há três anos eu escrevi sobre a nobreza fake da internet. E hoje decidi falar mais sobre isto, a despeito da opinião desta gente metida a nobre. Sobre uma meia dúzia de cidadãos com delírios de grandeza, que colocaram em suas cabeças que são nobres  titulados e não desistem deste ideal por nada na vida, se afundando mais e mais em suas próprias mentiras e devaneios.

Recordemos. A entrada neste meio de néscios é simples, e nós, heraldistas, temos uma notável parcela de culpa nisto. Eu já falei aqui que brasões de família não existem, mas para cada heraldista correto, há três prostituindo a heráldica, abusando dela para vender chaveiros, canecas e quadros.

Antes de prosseguir, um aparte, porque os ânimos andam muito exaltados na internet. Antes que os defensores das lojinhas de brasões cheguem aqui, em polvorosa, dizendo que eu não respeito o livre-comércio, que eu não respeito a arte e o trabalho alheio: Eu não tenho nada contra quem vende quadros, chaveiros e canecas com brasões.

Mas eu tenho muito contra quem vende heráldica falsa, que para além de enganar o incauto que não sabe da ciência heroica, ainda desrespeita a heráldica e todos os bons heraldistas, vendendo mentiras. Pessoas como estas sequer são aceitas no grupo deste blog.

Mas voltando ao assunto anterior:

Quem é a Nobreza Fake?

É perfeitamente compreensível que as pessoas queiram ser ou parecer mais nobres.

Não há demérito nenhum em querer exibir um título, desde que você o adquira por meios lícitos, morais e não inventando um título falso, o que é de péssimo gosto e ainda pode levar você para a cadeia, por falsidade ideológica.

Estas pessoas, usualmente, querem ser nobres a qualquer custo, e começam a adicionar sobrenomes nobres ou estrangeiros, aos seus próprios nomes. É um von aqui, um Palaiologos acolá, uma denominação territorial medieval, ou mesmo inventada, como Rei dos Visigodos da Casa Alexandrina Comnênia da Beócia Inferior.

E qual a primeira coisa que fazem? Exatamente. Inventar um brasão. Como se um brasão fosse alguma prova de nobreza. E começam a compartilhar o dito brasão, como se ele fosse uma prova definitiva de bom nascimento.

Vamos lembrar. Na primeira publicação sobre este tema, trouxe algumas palavras do renomado heraldista espanhol Francisco Piferrer (1858, p. 15):

Sobre a Nobreza. "Tratado de Heráldica y Blasón", Página 5. Disponível na Biblioteca.

15. Os títulos, timbres, insígnias e brasões dão, por certo, realce à nobreza; mas não são necessários, nem por si sós são suficientes para conceder nobreza. O nobre sem valor nem virtude, que se pavoneia com seus timbres e brasões, deixa de ser nobre; é um homem vulgar e plebeu. Ao contrário, por mais humilde que seja sua posição, é verdadeiramente nobre o homem que é valente e virtuoso.

Ou seja, estas pessoas não são nobres porque tem um brasão. Se assim fosse, eu também seria um nobre, porque eu tenho um brasão pessoal. São só tolos em busca de autopromoção e algum status social, mesmo este, mais falso que nota de trinta, alimentado por perfis fakes e por enganar pessoas, geralmente de mais idade ou menos estudo.

Felizmente, há vários espaços na internet onde estas pessoas recebem o que verdadeiramente merecem, reprovação e sátira. Em especial, recomendo o grupo Realeza, nobreza e protocolo. Lá, esses nobres são chamados de Desgothados, justamente por estarem fora do Almanach de Gotha, antigo anuário que é referência no que diz respeito a casas reais e nobres ao redor do mundo. Se você ver uma pessoa ostentando um título e achar que é um falsário, basta publicar lá. Os membros serão solícitos em puxar a ficha do fulano, e você até mesmo poderá dar umas boas risadas.

Como um bom heraldista vira um boboca?

Quando um heraldista ou desenhista heráldico aceita “trabalhar” para esta gente, ele passa a fazer parte da mesma fábrica de mentiras. Trabalhar entre aspas, o mais correto seria dizer “ser explorado”, afinal o que mais dizem os tais “nobres” é:

Infelizmente não temos dinheiro, mas poderemos recompensá-lo dignamente por tão nobres feitos em nome da gloriosa restauração do Soberano Trono Espacial da Casa de Seiláosburgo-Semnocionensis da Europa, França e Bahia. Você poderia ser o nosso Rei d’Armas, e desfrutar de todas as nossas reais benesses.

Iludido pelo título de Rei de Armas, que vale menos que uma balinha no mercado do bairro, e encantado por todas as reais benesses, que, reitero, também não valem nada, este heraldista que até tinha potencial, acaba por entrar numa espiral de gabolice que o levará, em algum ponto de sua vida, a uma vergonha absurda de todo o tempo e trabalho que perdeu.

Mas até que isso aconteça, veremos infelizmente muitos destes heraldistas cairem nas garras destes farsantes.

Dicas para heraldistas (e porque não para falsários também?)

Se você foi convidado por uma destas casas, para fazer estas funções, a minha sugestão é que você recuse, por todos os motivos acima.

Casas nobres de verdade pagam por serviços de heraldistas, designers e artistas em geral. O mecenato é uma atividade extremamente nobre, que foi popularizada ao menos desde o século XIV, mas pode-se mesmo considerar que existe desde sempre, afinal ser nobre e ser esteticamente agradável andam lado a lado desde que o mundo é mundo. Se você é um heraldista ou artista heráldico, seja digital ou manual, nunca aceite trabalhar de graça. Além de ser péssimo para o seu bolso, é péssimo para a sua reputação.

Essa dica vale também para os falsários: Se você quer material de qualidade para seguir com a sua brincadeira, pague por ele. Uma mentira passa mais fácil por verdade quando parece verdade. Um certo nobre fake aqui do Brasil gastou um bocado de dinheiro com domínios e hospedagem web para dar um visual mais profissional ao seu devaneio. E funcionou bem, esta pessoa ganhou bastante atenção do que quando só usava blogs gratuitos e brasões malfeitos. Até passou a fazer dinheiro vendendo títulos.

Outra coisa a se ter em mente: Nobres são discretos quanto à sua nobreza. “O nobre que se pavoneia é vulgar e plebeu”, já disse Piferrer. Eles não ficam publicando sobre a sua nobreza no Instagram, eles apenas são nobres, mas eles preferem ser reconhecidos pelo que fazem e consideram importante, como qualquer outra pessoa.

Um príncipe piloto

Um bom exemplo é o Arquiduque Ferdinand von Habsburg, herdeiro da linha de sucessão dos Habsburgos. Ele é piloto de Fórmula 3, e praticamente só fala em Fórmula 3 em suas redes sociais. Nenhuma menção a nobreza, nenhuma menção a sucessão ou política. A figura mais próxima de um brasão é um logotipo que lembra muito vagamente uma águia.

Logotipo de Ferdinand Habsburg, Arquiduque e piloto de corridas.

Em resumo: se você ver um “nobre” se vangloriando todos os seus títulos nas redes sociais, é bem provável que ele não tenha título nenhum. Se você for um nobre Fake, a minha dica é que consiga passatempos mais nobres do que exibir brasões ou falar mal do governo. Sugiro poesia, crítica cultural ou um esporte que tenha fama de nobre, como Pólo, Cricket, Rugby ou Tênis. Política é algo a evitar, pelo cenário em que vivemos.

Mas talvez a maior e mais importante das marcas de um nobre é a ortografia. Eu nunca vi uma publicação de uma Casa Real de verdade ter sequer um erro ortográfico ou fugir à netiqueta. São sempre textos primorosamente escritos, livres de quaisquer erros de escrita, concordância, coesão e coerência. Se você se diz nobre, mas escreve errado e em Caps Lock, você está passando vergonha. Não só como nobre mas como ser humano na internet.

Isto posto, a presença de um nobre na internet pode ser sintetizada em ao menos três máximas:

Discrição, cuidado visual e atenção à escrita. Tendo isto em mente, mesmo se você não quiser parecer um nobre, vai acabar parecendo.

Page 1 of 2

Desenvolvido em WordPress & Tema por Anders Norén